Apresentação
A costa semiárida do Brasil (CSB) situa-se na ponta mais oriental da América do Sul, projetada sobre o Atlântico Sul Equatorial (parte do Maranhão, Piauí, Ceará e parte do Rio Grande do Norte). Nessa região costeira, é encontrado um conjunto único de paisagens tropicais e comunidades humanas tradicionais, como pescadores e marisqueiras.
Trata-se de um macrocompartimento geomorfológico do litoral Nordeste do Brasil compreendido entre a Ponta dos Mangues Secos no Maranhão (2°15’5” S, 43°36’46” W) e o Cabo do Calcanhar no Rio Grande do Norte (5°9’24” S, 35°30’6” W), sendo o único trecho do litoral brasileiro sob crescente influência direta do clima semiárido, apresentando ainda características oceanográficas, ecológicas, geográficas e geomorfológicas singulares (Muehe, 2010).
Esta área engloba variadas feições, como estuários, faixas de praia, pradarias marinhas (seagrassbeds), dunas, barras arenosas, tabuleiros pré-litorâneos, recifes tropicais e bancos areno-lamosos, além de manguezais (Barros et al., 2016; Godoy et al., 2015; Pinheiro et al., 2016), os quais compõem ecossistemas costeiros importantes sob forte efeito das mudanças ambientais globais do Antropoceno e com importantes comunidades humanas. Apesar disso, esta região única no planeta não possuía até o momento nenhum programa PELD financiado por órgão de pesquisa federal (CNPq) e órgãos estaduais (FAPs).
A condução de pesquisas e os programas ecológicos de longo prazo (por exemplo, o Programa de Pesquisa Ecológica de Longa Duração – PELD) em ambientes costeiros tropicais ainda são insuficientes quando comparados aos sistemas subtropicais e de costas temperadas. Ainda mais negligenciadas estão as costas áridas e semiáridas do planeta cuja dinâmica ecológica é praticamente desconhecida, apesar da alta densidade demográfica, da vulnerabilidade e da biodiversidade única desses sistemas (Huxman et al., 2004; Poulter et al., 2014). Nesse contexto, a ausência no Brasil de um sítio PELD na costa tropical semiárida, apesar de sua alta importância social, econômica e ecológica e considerando sua vulnerabilidade aos impactos do Antropoceno, deve ser considerada como ponto crítico desse projeto.