Novidades sobre as “caixas misteriosas” no litoral do Nordeste
Data da publicação: 14 de outubro de 2021 Categoria: NotíciasTodos devem lembrar das já famosas “caixas misteriosas” que apareceram nas praias do Nordeste do Brasil em 2018. Pesquisadores do Labomar/UFC descobriram que eram fardos de borracha que se haviam soltado de um navio Alemão, o SS Rio Grande, naufragado pelos americanos ao largo da costa do Brasil em janeiro de 1944. As evidências científicas que suportam essa hipótese estão presentes no artigo publicado em julho de 2021 na revista Marine Environmental Research (https://doi.org/10.1016/j.marenvres.2021.105345).
Desde essa época esses fardos continuam aparecendo em algumas praias. Assim, no início do segundo semestre de 2021, a ocorrência desses fardos foi relatada na costa dos estados da Bahia, Sergipe e Alagoas. A priori, os pesquisadores do Labomar acharam que podia tratar-se dos fardos do SS Rio Grande, que continuam aparecendo em algumas praias da região. Mas duas coisas chamaram a atenção: 1º) a enorme quantidade de fardos reportada (mais de 200); e 2º) o fato de em alguns deles constarem inscrições gravadas em ideograma japonês, o kanji (o que não tinha sido visto até então).
Isso levantou a suspeita de que esses fardos poderiam ser de um novo “vazamento”. Assim, os pesquisadores do Labomar, em colaboração com pesquisadores da Universidade Federal de Alagoas (UFAL/Penedo), fizeram novas buscas e encontraram o naufrágio de um navio alemão, que havia saído do Japão em direção à Europa durante a Segunda Guerra Mundial carregando fardos de borracha e uma carga de estanho (um tipo de metal). Aprofundando mais as buscas, os pesquisadores descobriram que houve um salto no preço do estanho no mercado internacional no primeiro semestre de 2021, resultando em um aumento de quase três vezes quando comparado aos preços praticados em 2020. Isso levantou a suspeita de que piratas poderiam ter mexido no naufrágio na tentativa de recuperar essa carga, fato que foi confirmado pelo pesquisador britânico que atua nessa área, David Mearns, em contato com os pesquisadores do Labomar.
De posse dessas informações, foram feitas as modelagens matemáticas, as quais mostraram que, se os fardos saíssem do local do naufrágio, eles iriam direto para a costa dos estados da Bahia, Sergipe e Alagoas, confirmando então a hipótese de que os fardos que apareceram em 2021 são desse navio.
E que navio é esse? Seu nome é MV Weserland. Ele foi naufragado pelo destróier USS Sommers, da Marinha americana, em janeiro de 1944, poucos dias após o navio SS Rio Grande ter tido o mesmo destino: o fundo do Oceano Atlântico. E com as mesmas características: carregando uma carga de fardos de borracha que seriam usados no esforço de guerra alemão, além de metais nobres, que décadas depois passariam a valer muito dinheiro: o cobalto, no caso do SS Rio Grande, e o estanho, no caso do MV Weserland.
Neste momento, os pesquisadores do Labomar e da UFAL/Penedo estão na fase final de redação de um artigo científico que relata essa descoberta, mas que vocês, leitores, estão sabendo agora em primeira mão.
Prof. dr. Luis Ernesto Arruda Bezerra (Labomar/UFC)
Prof. dr. Carlos Eduardo Peres Teixeira (Labomar/UFC)
Prof. dr. Marcelo de Oliveira Soares (Labomar/UFC)
Prof. dr. Rivelino Martins Cavalcante (Labomar/UFC)
Prof. dr. Claudio Sampaio (UFAL/Penedo)