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Olhar além da praia: preservação das riquezas do mar

Data da publicação: 4 de junho de 2018 Categoria: Notícias

Pesquisadores cearenses criam uma Semana do Mar para alertar sobre a preservação das riquezas oceânicas como um bem natural

Não tem cidade praiana em que o cartão-postal não seja o mar. Geralmente uma imagem “vista de cima”, com os prédios orlando o vai e vem das ondas. Tão de cima que não se vê a areia da praia e seus ‘pets’ (não bicho, os plásticos). A própria praia parece se tornar um gigante descartável, seja depois da foto do Instagram ou da comemoração do Réveillon, que em Fortaleza tem uma das maiores festas do Brasil. As pessoas dão adeus ano velho, pulam as ondas e deixam que o lixo pule também – a Prefeitura estimou em 70 toneladas. Mas nenhuma ressaca é maior que a do mar.

Tem 22 anos desde que o biólogo e educador ambiental Juacir Araújo realizou o primeiro Campeonato de Caça ao Lixo na Praia de Iracema, num período em que a produção de lixo plástico no Brasil era de menos da metade de hoje.

“Foi uma forma de sensibilizar as pessoas sobre a vida e a ecologia do boto-cinza, que mora nessas águas próximas à orla. Foi também quando iniciamos os estudos desses animais”, diz o biólogo, um dos pioneiros dos trabalhos na Associação de Pesquisa e Preservação dos Ecossistemas Aquáticos (Aquasis), em Caucaia, na Região Metropolitana de Fortaleza.

Juacir é idealizador do Projeto Limpando o Mundo, que está no sexto ano consecutivo e desenvolve campanhas de limpeza em áreas naturais, como praias, estuários, rios e lagoas, além de oficinas de brinquedos com resíduos sólidos, palestras e capacitações para professores e voluntários em multiplicar a educação ambiental. “A gente tem sempre buscado um diálogo com as prefeituras, por meio das secretarias de meio ambiente. Tenta acompanhar o que é feito nos projetos da orla em relação aos resíduos sólidos. Hoje, no litoral do Ceará, não há nenhum município além de Fortaleza que tenha um aterro sanitário. Os outros só têm lixões”.

 

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Lixo na praia

“Ainda não aprendemos a valorizar toda a riqueza que o mar oferece. É uma disparidade diante do potencial que há, entre conservação da vida marinha e como captar isso de forma turística e social, e os projetos públicos que são colocados para a população”, afirma Augusto Bastos, pesquisador da história náutica. É autor, com o pesquisador Marcus Davis, do Atlas de Naufrágios do Ceará, um dos mais completos levantamentos independentes no País sobre embarcações que naufragaram, suas origens e histórias.

O Ceará tem registrados mais de 90 naufrágios que vão do período colonial à pós-revolução industrial. “Mas é uma informação histórica subaproveitada. Imagina se as pessoas fossem incentivadas a estudar sobre esses momentos históricos”, avalia o sociólogo Saulo Ribeiro, da Universidade Estadual do Ceará (Uece).

Augusto e Juacir são parte do grupo de pesquisadores, desportistas aquáticos e entusiastas da vida marinha que idealizaram a Semana do Mar, iniciada em 2017 e chega à segunda edição. O evento, que dura seis dias (9 a 14 de junho), tornou-se já na primeira edição um fórum para discussão das mais diversas questões marinhas.

Entre os temas debatidos estarão lixo marinho, pesca fantasma, empreendedorismo, construção naval, kite surf, mergulho e standup paddle. Haverá exposições de antiguidade náutica, aquarismo e acervo da Universidade Federal do Ceará, entre outros. O Instituto de Ciências do Mar (Labomar), vinculado à universidade, já tem o evento no calendário acadêmico oficial.

 

Semana de alertar

A Segunda Semana do Mar é realizada por um coletivo de entidades independentes que operam, estudam ou produzem conhecimento no mar. É uma forma de chamar atenção da sociedade e dos órgãos públicos para o tema. O momento também tornou-se um fórum do Instituto de Ciências do Mar (Labomar).

As principais entidades de pesquisa não tiveram lugar à mesa quando se iniciaram as discussões para construção do Acquário do Ceará (orçado em mais de R$ 400 milhões, dos quais R$ 130 já foram gastos) ou mesmo da Roda-Gigante (R$ 200 milhões) em fase de estudo. Mas apresentaram, ainda em 2017, o projeto de criação do Santuário Marinho do Ceará, que poderá trazer o primeiro museu subaquático da América Latina.

Com essa iniciativa, o visitante teria acesso às peças de naufrágios, bem como artefatos históricos, em mergulhos rasos próximo à praia. Uma forma de conhecer a biodiversidade que tem depois dela, bem como ver aonde vai parar o lixo que a mão ‘solta’ e a onda leva.

 

Mais informações:

Para saber mais sobre programação da II Semana do Mar (Semar 2018), acesse: https://bit.ly/2sq47dQ
Recicriança – educar para preservar
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Tércio Vellardi criou, há 26 anos, a Associação Recicriança, na Vila dos Estevão, vizinho à Praia de Canoas Quebrada, em Aracati (Ceará)
(FOTO: KLÉBER A. GONÇALVES)
O Ceará conta, no litoral leste, com uma das poucas organizações não governamentais cujo lema é a educação ambiental e conservação da biodiversidade costeira. Há 26 anos, a Associação Recicriança enfrenta, pela conscientização, aquilo que não pode fiscalizar e punir: a degradação do meio ambiente. Se o assunto é “Bichos do mar”,  a Vila dos Estêvão, vizinha à popular Canoa Quebrada, tem ao menos duas gerações de moradores que sabem a importância da conservação do peixe-boi, golfinho e das tartarugas, bastante recorrentes na região.
Se a degradação ambiental é uma realidade tão comum neste pedaço de litoral em Aracati, com a ocupação desregrada dos empreendimentos nas últimas décadas, tratar de animais marinhos é um desafio a mais. “O Recicriança nasceu como um dos primeiros fundamentos reciclar papel. E por meio disso fazer com que a meninada entendesse a necessidade de preservar o meio ambiente, cuidar da natureza”, explica o fundador e mantenedor Tércio Vellardi.
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Quando pescadores e as crianças do projeto encontram animais marinhos encalhados na
Praia levam até a Recicriança (FOTO: KLÉBER A. GONÇALVES)
Na sede do Recicriança, há bonecos de papel reciclado, feitos pelos próprios meninos, representando os animais em tamanho natural. “Quase semanalmente recebemos tartarugas que encalham na praia, já convalescendo. São trazidas pelos pescadores, ou as próprias crianças. Até turistas também já deixaram aqui, para que a gente possa fazer os primeiros socorros, tentar desobstruir alguma coisa visível, e ligar para os amigos do Rio Grande do Norte e os parceiros da Aquasis, na Região Metropolitana de Fortaleza”, detalha Tércio. Aquasis é a Associação de Pesquisa e Conservação de Ecossistemas Aquáticos. Realizam, principalmente, cuidados na conservação de mamíferos marinhos, especialmente peixe-boi e boto-cinza, mas também desenvolvem há mais de duas décadas o monitoramento das aves marinhas.
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Há 26 anos, a Associação Recicriança enfrenta, pela conscientização, aquilo que não
pode fiscalizar e punir: a degradação do meio ambiente. 
O trabalho da associação aracatiense é reconhecido nacionalmente pelo grito ambientalista que ecoa a partir da região. Os trabalhos de educação envolvem não só as crianças como suas famílias, especialmente as mães. Uma das produções culturais desenvolvidas pela instituição foi o lançamento do livro “Miolo de Pote”, contando os causos do pescador Antônio Miolo, da praia de Canoa Quebrada. As peripécias do antigo trabalhador são ouvidas e depois narradas e desenhadas pelas crianças do lugar.
Uma das principais atividades do Recicriança são as trilhas ecológicas, em que grupos escolares de todo o estado para mostrar a biodiversidade costeira nessa região de Aracati. É uma oportunidade para dizer a outros da importância de preservar o meio ambiente – e da conscientização para isso.
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Fonte: Diário do Nordeste

 

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