A regeneração de áreas degradadas de manguezais como meio de redução dos efeitos causados pelas mudanças climáticas. Esse é um dos pontos chaves a se constatar com uma pesquisa desenvolvida pelo Instituto de Ciências do Mar (Labomar), da Universidade Federal do Ceará (UFC), no estuário do Rio Pacoti, na Região Metropolitana de Fortaleza (RMF).
A área, degradada após operar como uma salina e, em seguida, uma fazenda de camarões, vem sendo recuperada desde 2014, com o plantio de espécies nativas desse ecossistema costeiro, em especial a Rhizophora mangle. A planta, típica da vegetação do mangue, vem demonstrando elevado potencial para retirada de carbono da atmosfera, com base em conclusão de pesquisa similar já realizada no afluente do Rio Potengi, em Natal, no Rio Grande do Norte.
Lá, a análise realizada há dez anos em duas áreas degradadas de mangue mostrou que o local indicado para receber projetos de recuperação – por meio do plantio da Rhizophora mangle – teve capacidade de estoque de carbono quase duas vezes maior que o território regenerado naturalmente. “No mangue existem três ou quatro espécies de plantas, então, dessas, a Rhizophora é a que tira melhor o carbono do ar. Ela tem as raízes bem ramificadas, que você vê na beira dos rios. Então, nas áreas naturais, acabaram crescendo as três espécies, e na área que foi recuperada, houve um plantio da Rhizophora, tendo mais dela nessa área”, explica o professor doutor Luis Ernesto Arruda Bezerra, do Labomar, e responsável pelos estudos.
Biomassa
A vegetação, conforme destaca, acabou acelerando o processo de recuperação da área de mangue onde era predominante devido às suas características de fotossíntese, superior às demais. “Ela tira esse carbono da atmosfera e transforma isso em biomassa, a massa viva da planta. Assim, ela cresce mais, fica mais alta, com mais folhas e o mangue se regenera mais rápido”, diz.
Nesse contexto, ainda segundo o professor, os pesquisadores avaliam essencialmente o papel dos caranguejos presentes no ecossistema, por se tratar de uma espécie com importante papel na topografia e na biogeoquímica dos sedimentos, assim como na diversidade, estrutura e biomassa das plantas.
Nos estudos realizados no Rio Potengi, foi verificado que os crustáceos consumiram quatro vezes mais os propágulos (espécie de sementes) de outras plantas se comparado a Rhizophora mangle, fazendo com que esta prevaleça no local. “Você acaba não tendo uma área natural com todas as espécies, mais diversa, mas pelo menos tem uma área que conseguiu tirar mais CO2 da atmosfera, e isso dentro do contexto das mudanças climáticas é importante”, avalia Luis Ernesto Arruda Bezerra.
Na recuperação em andamento no mangue do Rio Pacoti, diz o professor, ainda não é possível determinar o estoque de carbono das vegetações presentes. Mas além dos caranguejos, os pesquisadores vêm estudando a influência de outros grupos, especialmente as herbáceas, um tipo de planta rasteira. O objetivo é saber se elas favorecem o crescimento do mangue em áreas degradadas.
Os dados sobre o conteúdo de carbono dos manguezais variam conforme influências do clima, das marés e das configurações geomórficas, assim como pela diversidade de espécies e pela bioturbação, processo de movimento do solo por animais e plantas. Neste caso específico, o papel que os caranguejos desempenham revolvendo e escavando galerias no solo.